A capa



Tela: D'noronha
Título: In Pollock we trust
Galeria Virtual

Apresentação

nunca
me senti
tão
miserável

eu
não tenho
nada

pra dizer.

Dedicatória

Ao leitor
a carne
do poema
ao não-leitor
os ossos
do ofício.

In finita mente

os seres
as coisas
tudo
perecível

não cabe
no
instante
o amanhã

:
é imenso.

Quando deixa-se de amar...

Em parceria com a Loba/Euza Noronha

tem que
se recolher
dos espinhos
(a carne)

ainda resta
abrir
nos olhos
a alma

buscar
o amanhecer
dos dias
esquecidos

dentro
da noite
: fora
do sonho.

Objeto

quero
apenas
que
o poema
exista

e
funcione
um
instante

se
possível

que
não
o
decifrem.

Familiar

meu pai
minha mãe
meu irmão
minha irmã
nosso cachorro
e eu:

morávamos
todos em
uma casa
grande e
bem-assombrada
por nós.

Pontaria

um tiro
no
escuro

(saiu
pela
culatra)

: matou

o tempo.

Páscoa

a realidade
escondida
fora do ovo

para muitos
recheado

de mistério.

De propósito

foram
os deuses
foram eles

foram
as deusas
foram elas

esqueceram
algum
barulho

onde
a poesia
cochilava.

Precaução

O mar
guarda a palavra
pérola

dentro de ostra
palavra.

Narciso

o mesmo
ali cara a cara
olho no olho

o espelho d'água
e seu
estilhaço.

Redundância

a morte existe
para que a vida
seja completa

e as pálpebras
para que a noite
seja completa.

Resíduo

todo poema
recomeça
quando
pousa
simultâneos
pés
um no claro
outro
no escuro
nos dois lados
do horizonte

pouco antes
de sumir
completo
absorvido
por um vazio
acolhedor
que
o devolve
aos excessos
da palavra
e do silêncio.

Neurose

Separou
O joio
Do trigo
E separou
O trigo do trigo
Por fim
Separou-se
Do trigo.

Curto & grosso

o tempo
urge
por isso a pressa
inimiga
da perfeição
e o dizer
nem sempre
preciso tudo antes
que o poema
acabe
em outro.

Contemplativo II

Maduro o fruto
mergulha em si
quando cai pesado
de mistério
e sabor

num instante
forma e conteúdo
atravessam
o vazio em torno
(densa
membrana)

a parte mais dura
de sua casca.

Voraz

Insaciável
o silêncio ordenha
a palavra pedra

até o último grão
de areia.

Fogo Fátuo

A noite
não me ilude mais
com sua lua
suas estrelas
e alguns dias

hoje
só me interessa
aquilo que

- suspenso entre
um brilho
e outro -

não
consigo enxergar
ainda.

Folga

nos braços
da rede
estrategica-
Mente

amarrada
na paisagem
a realidade
balança

tudo agora
é Algo
que já pode
Ser

desligado.

Ele sempre escapa

Para: Val Freitas

bicho
arisco
o poema

: é trevo
de quatro

pernas.

Tombo

Ainda
no chão
ensaio um sorriso

e quase consigo

ser
sincero.

( REM )

Em parceria com Cecilia Cassal

meu olho
coxo
de tanto
andar

- nau
à deriva
na veloz
idade
da luz -

não olha
mais
não
decifra:

(a pedra
no sapato)
o cisco
em sua
órbita.

Confuso

dói tanto
ainda
não sei
se

ele
(o dente)
ou eu

quem
foi
extraído
de quem.

Projeto

um dia
eu quebro
o inquebrável

: a casca
do indizível.

Súbito

no
fim
do túnel
uma
luz

acesa
na
escuridão
que
sou.

Simbiose

o poeta
o poema
quando
não
se emendam

formam
uma coisa


que
não chega
a
existir.

Ainda assim...

clareira
aberta
no tempo
fogo
aceso
no escuro

clareira
acesa
no escuro
fogo
aberto
no tempo

: aceso
o fogo
aberta
a clareira

: o tempo
escuro
a chama
inútil.

Modalidade

enquanto
escrevo
vôo

: deixando
de
existir.

Longe assim...

: o coração do poema
pulsando

na caixa (torácica)
de Pandora.